sábado, 2 de agosto de 2014

A Literatura chega a comunidades ribeirinhas na cidade de Paraty

 

FLIPINHA - PELA CIDADE DE PARATY

 Por: Camille Rodrigues - Texto original
 
Comunidade de Ponta Grasso, Paraty. Foto: Camille Rodrigues

Sentada na sala de imprensa, escrevendo sobre uma mesa na tenda dos autores que eu estava cobrindo, recebi um convite irrecusável, uma visita de barco a uma Escola Municipal no interior da cidade de Paraty, em uma comunidade ribeirinha, onde o acesso era apenas de barcos. Distante do centro histórico, e de toda movimentação da “cidade grande”, acompanhando um grupo de incentivadores da cultura que visam levar o acesso a educação/ensino, com arte e cultura para crianças e adolescentes de comunidades.  Imaginem a minha cara diante de um convite como esse? Tudo o que eu sempre quis?
Lembro-me bem que ano passado eu também estava credenciada ao evento, e em meio a minha primeira cobertura de um evento internacional, o população não se conteve, e formou um movimento chamado “Paraty Acordou”. A manifestação tomou toda a cidade, e a jornalista iniciante, que havia se preparado apenas para a FLIP e mesmo assim assustada e com medo, largou tudo e foi para o meio do povo, sentir o que eles estavam sentido, tentar entender o porque de  tanta indignação diante de uma cidade tão bela e um evento tão encantador. Dentro de seus questionamentos, uma das perguntas gritadas pelo povo, era: “Para quem é a FLIP?” Isso me preocupou e fez olhar o evento com outros olhos. Era importante para mim saber se o investimento literário era apenas para as pessoas que viam de fora, ou de fato existia literatura e investimento em projetos de educação para os moradores e caiçaras da cidade.
Pois bem, me dei autorização para escrever um texto mais informal, na primeira pessoa, com a minha voz, minha cara. Afinal, a experiência vivida hoje, não poderia ser contada por terceiros e menos ainda por um texto jornalístico, objetivo, com lead e apenas algumas informações com limites de caracteres. Não seria eu, não seria meu texto. Decidi escrever como gosto, como me considero, uma jornalista que escreve com a alma, que vai para o meio do povo, e vive a emoção da notícia viva, da informação real vivida na garra e na emoção de um jornalismo puro e simples, algumas vezes poético, mas da alma.
Aceitei o convite, e para minha surpresa, me pediram para estar no cais da cidade, as 07h da manhã. Confesso quase ter desistido, pois em Paraty está quase nevando, imagina em um  barco, no meio do mar as 07h no inverno?!  Mas fui, porque eu tinha muitas perguntas, eu precisava ver se era real, e qual era o tal investimento “educacional” que o grupo apoiava.
O Instituto C&A, junto instituição “casa azul, membros da secretaria de educação e alguns jornalistas convidados, abraçaram a idéia e como eu e foram visitar a Escola Municipal João Apolonio dos Santos Pádua, localizado na comunidade de Ponta Grossa em Paraty.
Ao chegar a escola ribeirinha, fomos recepcionados por lindas princesas, que de longe já avistamos. Desde de o inicio do semestre, a escola desenvolve um trabalho literário, sobre um autor escolhido junto as crianças, e este ano foi o autor Augusto Pessoa. As princesas que avistamos, eram as crianças fantasiadas com personagens que mais gostaram dos livros do autor que também estava conosco no barco para conhecer a comunidade e o trabalho que é desenvolvido.
Descemos do barco, e sorrisos encantadores, quanta alegria tinha as crianças. Ao caminhar pela praia, a caminho da escola, nos deparamos com bandeiras, e alguns trabalhos desenvolvidos pelas crianças em oficinas realizadas pela escola. Pude ver que sim, a literatura chegava, os contos eram contados, as histórias rendiam, e olhos brilhavam. Como eu gosto, pude olhar nos olhos das crianças e ver o encantamento, o brilho ao ver o autor que eles tanto estudavam, as curiosidades que surgiam, as perguntas inusitadas: O Malasartes existe mesmo?! Levando o autor a grande emoção, ao saber que sua literatura estava chegando a crianças de escola Municipal, onde o acesso era apenas de barco.
A manhã foi rica e grandiosa, na comunidade de Ponta Grossa, se reuniram crianças de outras comunidades ribeirinhas, também do município de Paraty, onde as dificuldades do acesso a escola, são as mesmas. Mas que a educação chega e a riqueza cultural é mantida. A comunidade do Mamanguá, também levou seus trabalhos para prestigiar o Augusto Pessoa, desenharam, contaram histórias e leram suas poesias, até leitura de cordéis, tivemos sentados na areia da praia, em um cantinho todo especial, separado e arrumado pela escola para nos receber.
Leitura de poesia em homenagem ao autor Augusto Pessoa( em pé a direita) Foto: Camille Rodrigues
É importante frisar que escola que visitamos possuí no total 19 alunos, sendo eles divididos com duas professoras que chegam na instituição da mesma forma, de barco, pois são moradoras do cento histórico. Suas classes, bem diferente do que estamos acostumados a ver, são distribuídas da seguinte forma – uma professora pega o 1º,2º e 3º anos juntos e outra 4º e 5º também na mesma classe. E assim são feitas as divisões de turmas nas comunidades adjacentes.
 
Se estão corretos ou não, não sou digna dizer, e que ainda falta muito a ser feito por esses moradores é notório. Mas confesso ter ficado feliz, em num curto prazo de um ano, poder voltar a cidade e ter a oportunidade de responder alguns dos questionamentos levantados naquela manifestação.
 
Indignados todos nós temos que ficar, porque sabemos que muito já poderia ter sido feito, e muito mais poderia estar fazendo, mas prefiro acreditar que são crianças exclusivas, sendo educadas não em uma turma de 40 ou 50 alunos, e que não estão esquecidas e sozinhas, existe alguém olhando por elas, investindo e acreditando em cada uma delas.
 
 

A Seriedade de quem investe na educação

O “Instituto C&A”, em parceria com a Associação Casa Azul, reconhecida desde 2004 como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse público) e a secretaria Municipal de Educação, trabalham pela garantia do direito á educação de crianças e adolescentes. Juntos desenvolvem projetos culturais permanentes que acontecem pela cidade durante o ano, garantindo que a educação chegue à cidade e valorizando não abrindo mão das culturas locais.
O instituto, criado em 1991, com o objetivo principal de promover a educação para crianças e adolescentes, organiza atividades durante o ano inteiro, em torno de três áreas: Educação, arte e Cultura. Atua na cidade de Paraty desde 2009, dando apoio financeiro e técnico a literatura, com o objetivo de fazer da cidade uma “cidade de leitores”. Também, Incentiva oficinas literárias e artísticas, programações culturais para toda a comunidade, e principalmente apóiam e incentivam a construção e manutenção de bibliotecas escolares e comunitárias.
Em uma conversa com Sr. Volnei Canônica, coordenador do programa “Prazer em Ler” e mediador na FLIPZONA durante a FLIP C&A, nos conta que o papel do Instituto não é de patrocinador, eles não se consideram assim, porque dão o apoio técnico e financeiro. Logo, se consideram apoiadores, apóiam quem faz.
O grupo em conjunto com a Associação Casa Azul, desenvolvem atividades, oficinas, sarais, visitas, levam o autor a escola, como fizeram hoje na “Operação FLIPINHA.” E completa: “Garantir o acesso a literatura, o acesso ao conhecimento, a informação que vem ligado a leitura” 
Mediador e Diretor dp Instituto C&A junto a bandeira de Bem Vindo
na comunidade de Ponta Grossa, Paraty. Foto: Camile Rodrigues

 O Mediador Volnei, conta que hoje jovens que participaram da FLIP, se interessaram e aperfeiçoam e estão como mediadores no evento, trabalham na Casa Azul, atuam na tenda dos livros. E afirma: “É possível fazer da leitura uma profissão.”
 
 
 
 
 

Outros Projetos

 

A Secretaria de Educação também desenvolve o projeto “Eu sou Caiçara”, projeto que reuni fotos de moradores das comunidades. Crianças e adolescentes que contam a histórias deles, e suas lembranças, através de fotos tiradas propriamente por eles.
A Escola Municipal João Apolônio dos Santos Pádua, recebeu recentemente uma boa doação de acervos, permitindo aos educadores, fazer trabalhos e desenvolver a leitura permitindo os alunos a levarem os livros para casa, devolvendo alguns dias depois.  A professora Ivani Lopes, nos conta: “Eles trazem de volta com vontade de contar o que leu e ler para os outros alunos.” Ivani Lopes, professora do 1°,2°,3° ano.
Interessados em ajudar no incentivo a leitura fazendo doação de livros para as instituições da cidade, procurar a “Associação Casa Azul”, localizada no Centro Histórico de Paraty.
 
Segue abaixo algumas fotos deste dia tão especial. Imagens Camille Rodrigues







































 
 

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